
Você já se pegou reagindo de forma exagerada a algo pequeno numa relação? Já sentiu medo de se apegar ou uma necessidade incontrolável de se agarrar ao outro, mesmo sabendo que isso te fazia mal? Já desconfiou de todo mundo, ou idealizou alguém que mal conhecia? Se sim, talvez o que estivesse agindo ali não fosse apenas o presente — mas também um passado que ainda ecoa. Se você já se pegou reagindo de forma exagerada a algo pequeno numa relação, talvez esteja experimentando os efeitos do apego na vida adulta — padrões emocionais moldados pelas experiências da infância.
Na infância, aprendemos como o mundo funciona emocionalmente. Descobrimos, por tentativa e erro, o que nos faz ser vistos, cuidados, aceitos. Algumas crianças crescem sentindo que são amadas simplesmente por existirem. Outras, que precisam se esforçar para serem notadas. Algumas entendem que chorar atrai cuidado. Outras, que o choro afasta ou irrita. Com base nessas vivências, criamos uma espécie de manual interno sobre como devemos nos comportar para não perder o amor.
Esses manuais, mesmo que silenciosos, nos acompanham até a vida adulta. E se tornam padrões emocionais. Aparecem nos vínculos mais íntimos: nos relacionamentos amorosos, nas amizades, nas relações com colegas, chefes, familiares e até com nossos próprios filhos.
Como o apego na vida adulta se manifesta nos relacionamentos
Quem tem um estilo de apego ansioso, por exemplo, pode sentir medo constante de ser deixado, mesmo sem motivo claro. Pode interpretar silêncio como abandono, demora como rejeição, espaço como indiferença. Essa pessoa tende a colocar muita energia na relação, muitas vezes abrindo mão de si mesma para tentar garantir o afeto do outro.
Já quem tem um padrão evitativo costuma manter distância. Não se sente confortável com muita intimidade. Pode fugir de conversas profundas, parecer indiferente ou frio. Mas por trás da aparente frieza, há, muitas vezes, um medo antigo de se tornar vulnerável demais — e ser ferido por isso.
Pessoas com apego desorganizado vivem uma montanha-russa emocional. Aproximam-se, mas têm medo. Se entregam, mas se arrependem. Confiam, mas desconfiam logo em seguida. Vivem relações com muita intensidade, mas pouca estabilidade. Às vezes, amam e temem a mesma pessoa. Às vezes, repetem vínculos instáveis porque, de alguma forma, é disso que conhecem.
Mesmo quem tem um estilo de apego seguro pode ser ativado em situações específicas. O apego não é fixo. Ele é influenciado pelo contexto, pelas pessoas com quem nos relacionamos, pelos momentos de vida que estamos atravessando. Há quem transite entre os estilos, dependendo da situação.
A boa notícia é que identificar esses padrões não serve para nos rotular — mas para nos libertar. Quando entendemos que não estamos “errados”, mas agindo conforme aprendemos, conseguimos olhar para nossas reações com mais compaixão. A pergunta deixa de ser “por que sou assim?” e passa a ser “como posso cuidar disso agora?”
Relacionar-se, na vida adulta, é um convite à responsabilidade emocional. Não para ser perfeito. Mas para ter consciência. É no dia a dia que se constroem vínculos mais seguros: dizendo o que se sente, pedindo o que se precisa, aceitando que o outro é diferente, mas também merece ser escutado.
Cuidar dos nossos vínculos é também cuidar de quem fomos — e de quem estamos nos tornando. Entender o apego na vida adulta é um passo essencial para construir vínculos mais conscientes e seguros. No próximo texto, falaremos sobre como a terapia pode transformar esse processo.
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