
Quem descobre que carrega um estilo de apego ansioso, evitativo ou desorganizado costuma se fazer a mesma pergunta: “Isso tem jeito?” A resposta é simples — e complexa ao mesmo tempo: tem. Mas não é mágica. É processo.
Os nossos padrões de apego são construídos. Eles nascem da repetição. Daquilo que sentimos e vivemos na infância, do que faltou, do que nos feriu. E, como todo aprendizado, eles podem ser ressignificados. Mas não se apagam com frases prontas ou manuais de autoajuda. Eles precisam de vivência emocional nova. Precisam de vínculo diferente.
É aí que a terapia entra.
A terapia funciona como um espaço seguro onde é possível vivenciar algo diferente do que se experimentou nos primeiros vínculos. Ali, é possível ser escutado sem julgamento. Sentir raiva sem ser punido. Ficar em silêncio sem ser esquecido. Expressar dor sem perder o cuidado. Isso, por si só, já começa a reorganizar o que está dentro.
O vínculo terapêutico, por mais técnico que seja, também é um vínculo afetivo. Não no sentido de amizade ou apego dependente, mas no sentido de responsividade emocional. O terapeuta que escuta, sustenta, se mantém presente (coloca limites quando necessário), mesmo diante da vulnerabilidade do outro, oferece algo que muitas pessoas talvez nunca tenham tido: um espaço onde é possível sentir e ainda assim ser aceito.
E isso transforma. Porque o nosso cérebro aprende com a repetição — mas cura com a consistência.
Para além da terapia, relações fora do consultório também podem ter esse efeito reparador. Um parceiro que não se afasta quando você se abre. Uma amiga que entende quando você precisa de espaço. Um familiar que aprende a falar de afeto de forma nova. Nenhuma dessas pessoas “conserta” nada — mas cada uma pode ser um pedaço do caminho para que a gente reconfigure o próprio jeito de se vincular.
Mudança emocional não é sobre apagar o que foi. É sobre ampliar o repertório. É sobre perceber que há outras formas de se relacionar, outras formas de amar, outras formas de ser amado. E, aos poucos, escolher essas formas com mais consciência e menos medo.
Importante dizer: a mudança real não acontece para agradar o outro, mas para cuidar de si. Mudar não é trair quem você foi, mas respeitar quem você pode se tornar. Não é sobre nunca mais sentir ciúme, insegurança ou medo. É sobre reconhecer quando esses sentimentos aparecem — e ter ferramentas para lidar com eles com mais clareza e menos dor.
Muita gente acha que só pode se relacionar quando estiver “curada”. Mas relacionar-se é parte da cura. São os vínculos que revelam nossos pontos frágeis — e também os que podem fortalecê-los. Relações conscientes não são aquelas sem conflito. São aquelas em que há espaço para conversar, reparar, cuidar e recomeçar.
Se você carrega feridas de apego, saiba: o seu estilo de apego não é destino. É história — e histórias podem ser reescritas com afeto, consciência e cuidado. O que foi aprendido pode ser revisto. O que foi doloroso pode ser elaborado. E o que parecia impossível de sentir, pode — aos poucos — se tornar habitável.
O que se aprende no amor também pode ser reaprendido com amor.
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