
Se você leu o texto em que eu explico a Teoria do Apego, já sabe que ela surgiu para explicar como nossos primeiros vínculos moldam o jeito que sentimos segurança — ou ameaça — nas relações. Agora, é hora de olhar para os caminhos que aprendemos a seguir: nossos estilos de apego. Cada estilo de apego revela uma forma aprendida de buscar segurança emocional.
Estilo de apego é o nome que se dá à forma como cada pessoa tende a se relacionar emocionalmente com os outros. É a maneira como nos aproximamos, como reagimos ao distanciamento e como respondemos à possibilidade de sermos amados. Esses padrões não são decisões conscientes. Eles são respostas que o corpo e a mente aprendem, lá no começo da vida, com base em como fomos cuidados.
A pesquisadora Mary Ainsworth observou essas respostas em um experimento chamado “Situação Estranha”, onde crianças eram separadas e reencontradas com suas figuras de cuidado. A forma como reagiam revelou traços que hoje reconhecemos em adultos também. Esses traços foram organizados em quatro estilos principais: seguro, ansioso, evitativo e desorganizado.
Apego Seguro
Este é o estilo de apego de pessoas que geralmente confiam no afeto. Elas conseguem se aproximar e se afastar sem muito sofrimento. Sabem que podem contar com o outro, mas também se sentem bem estando consigo mesmas e explorando o mundo. O vínculo é um lugar de apoio, não de ameaça. Quem tem esse estilo, em geral, cresceu com cuidadores emocionalmente disponíveis, que respondiam com constância e afeto.
Apego Ansioso (ou ambivalente)
Neste estilo de apego, o vínculo é um lugar de dúvida constante. A pessoa pode desejar a conexão com intensidade, mas tem muito medo da perda. Costuma se preocupar demais com a relação, sente que está sempre prestes a ser deixada, busca sinais de rejeição mesmo onde não há. Outra característica é a dificuldade em confiar em si mesmo e com frequência acreditar que não é bom o suficiente. É comum oscilar entre se entregar muito e cobrar demais. Esse padrão costuma nascer quando o cuidado foi inconsistente — ora presente, ora ausente — fazendo com que o afeto pareça sempre incerto.
Apego Evitativo
Pessoas com estilo de apego evitativo tendem a manter distância emocional. Têm dificuldade de confiar, de se entregar, de depender do outro. Valorizam muito a autonomia e, muitas vezes, racionalizam os sentimentos. Pode parecer que não se importam, mas na verdade estão se protegendo. Esse padrão geralmente surge quando o ambiente não validava a vulnerabilidade: sentimentos eram ignorados, punidos ou vistos como fraqueza, a pessoa aprendeu que precisa “se virar sozinha”, não pode contar com o outro.
Apego Desorganizado
Esse é o estilo de apego mais complexo. Ele mistura comportamentos ansiosos e evitativos. A pessoa deseja o vínculo, mas o teme ao mesmo tempo. Pode haver confusão, impulsividade, medo intenso de abandono, idealização e repulsa do afeto, há uma dificuldade de encontrar segurança em si mesmo e no outro. Muitas vezes, o desorganizado é resultado de ambientes caóticos, negligentes ou marcados por trauma. É uma tentativa de sobreviver emocionalmente em contextos onde a figura de cuidado também foi uma fonte de medo.
É importante lembrar: nenhum desses estilos é uma sentença. E ninguém é “só” um estilo. Somos feitos de camadas, histórias e experiências que se somam. Um mesmo vínculo pode ativar diferentes partes da gente. E o mais importante: padrões de apego podem ser transformados.
Quando você começa a perceber o seu padrão, algo muda. Aquele ciúme que parecia exagerado pode virar pergunta. Aquela distância que parecia natural pode virar escolha. Aquele medo que era regra pode virar ponto de atenção. O autoconhecimento, aqui, não é sobre controle. É sobre liberdade emocional. Identificar seu estilo de apego é o início de uma mudança possível. No próximo texto, vamos olhar para como esses estilos de apego aparecem na vida adulta: nos relacionamentos amorosos, nas amizades, no trabalho e até na forma como cuidamos — ou evitamos cuidar — de nós mesmos.
🔗 Leitura complementar sobre estilos de apego:
Associação Brasileira de Terapias Cognitivas – ABTC
Sociedade Brasileira de Psicologia – SBP