
A teoria do apego nos ajuda a entender por que nossos vínculos emocionais se constroem de certas formas — e como nossas primeiras experiências moldam o que sentimos hoje. Nem sempre o que sentimos tem nome. Às vezes, é uma angústia silenciosa ao perceber o outro distante. Às vezes, é um esforço imenso para não nos sentirmos apegados demais. Tem quem corra, tem quem cole. Tem quem oscile. E no meio disso tudo, há uma pergunta que atravessa o tempo: por que nos relacionamos como nos relacionamos?
A Psicologia tem muitas formas de olhar para os vínculos humanos, mas uma das mais consistentes, profundas e reconhecidas é a Teoria do Apego. Desenvolvida inicialmente pelo psiquiatra e psicanalista britânico John Bowlby, essa teoria busca compreender como os laços emocionais entre um bebê e seu cuidador primário influenciam o desenvolvimento afetivo, a capacidade de confiar e o modo como lidamos com o mundo — mesmo depois de adultos.
Bowlby observou que o apego não era apenas uma questão emocional, mas uma necessidade biológica. Ele argumentava que os bebês nasciam predispostos a buscar proteção e segurança, e que a qualidade desse vínculo inicial afetava profundamente a formação da personalidade. Em outras palavras: não se trata apenas de amor ou carinho. Trata-se de sobrevivência psíquica.
Mais tarde, a pesquisadora Mary Ainsworth, colaboradora de Bowlby, aprofundou os estudos com base em evidências empíricas. Ela identificou, por meio do experimento conhecido como “Situação Estranha”, que crianças reagiam de maneiras diferentes à separação e ao reencontro com suas figuras de apego. Foi assim que surgiram os primeiros estilos de apego: seguro, ansioso e evitativo — mais tarde complementados por outras linhas com o estilo desorganizado.
Mas por que isso importa tanto hoje?
Porque aquilo que aprendemos nos nossos primeiros anos de vida não desaparece. Ele se transforma em referências internas. Em mapas emocionais. Em crenças como “posso confiar em alguém” ou “ninguém vai ficar”. E esses mapas, mesmo que inconscientes, guiam nossas reações, nossos vínculos e nossos limites.
A teoria do apego nos oferece um olhar compassivo sobre nossa própria história. Ela mostra que padrões de comportamento — como se calar para não incomodar, esperar demais, se proteger antes de se envolver — não são fraquezas. São formas que desenvolvemos para lidar com o afeto quando ele não foi seguro.
O apego não fala apenas da infância. Ele fala da vida. Fala da forma como escolhemos parceiros, como reagimos à rejeição, como cuidamos dos outros e de nós mesmos. Ele aparece em relações afetivas, mas também no trabalho, na amizade, na forma como suportamos ou evitamos a solidão.
A teoria também nos ajuda a olhar para nossos vínculos atuais com mais empatia: nem todo comportamento difícil é desinteresse. Às vezes, é medo. Às vezes, é memória.
E o mais importante: estilos de apego não são rótulos imutáveis. Eles são moldáveis. Porque o afeto aprendido pode ser reaprendido. Relações novas, terapias consistentes, vínculos seguros podem reorganizar internamente o que foi ferido — e nos convidar a viver relações mais conscientes e generosas.
Se você leu o primeiro texto dessa série, talvez já tenha se reconhecido em muitos sentimentos que pareciam soltos — mas agora ganham contorno. Aqui, começamos a entender o porquê.
Vamos aprofundar esse caminho um pouco mais: você vai conhecer os estilos de apego e poderá se identificar, com leveza, com aquele que mais se aproxima da sua forma de sentir. E, quem sabe, abrir espaço para outras formas de se vincular também.
🔗 Informações complementares
Aqui você pode assistir um vídeo sobre o Estudo de Harlow
Para saber mais sobre os estudos de John Bowlby e Mary Ainsworth, acesse:
https://www.sbponline.org.br/
https://abtc.org.br/